segunda-feira, novembro 07, 2005

O Mestre Pasteleiro


A vidinha corria-me bem. Demasiado bem. Todo o meu ser transbordava irradiante de felicidade linda, plena, absoluta. Eu e a minha namorada já falávamos em casamento e fazíamos projectos de planeamento familiar. O meu automóvel já não avariava há mais de um mês. O Benfica jogava bem e era elogiado internacionalmente. Matámos no Dragão o borrego de 14 anos, obrigando os portistas que regressavam a casa, a entrarem de lado nas carruagens do Metro, devido ao tamanho inchado do melão que levavam. O FCP aprovava um Relatório de Contas viciado q.b. que outorgava aos seus administradores um vencimento mensal líquido de 60 mil euros mensais. Surgiram notícias na imprensa a expôr o facto de o FCP dever aos seus ex-treinadores Del Neri e Fernandez um total de 1,8 milhões de contos em indemnizações. Enfim, sentia-me como Dante no Paraíso. Até que Jorge Jesus veio mudar tudo.
Quando após o jogo em Alvalade, Jesus veio dizer que «regressámos ao antigamente», velhos fantasmas perseguiram-me, visão que se adensou quando vi a bola cabeçeada por Renato entrar 6 metros dentro da baliza de Ricardo. Lembrei-me de José Guímaro, de Pinto Correia, de José Silvano, de Carlos Calheiros, de Soares Dias, de Mário Leal, de Lourenço Ferreira e de Marques da Silva. Árbitros que embora não conhecessem uma carreira internacional ao serviço da FIFA, conheceram uma carreira internacional ao serviço da Cosmos em Terras de Vera Cruz ou então em Congressos de Arbitragem realizados na Sicília. Lembrei-me de um lance idêntico desenrolado na Luz na época passada em que Baía retira de dentro da baliza um golo certo da autoria de Armando Soares Teixeira. Lembrei-me dos cónegos da imprensa azul e branca a provar através do Teorema de Pitágoras e de noções básicas de trigonometria que a bola não entrara totalmente na baliza de Baia. Lembro-me de um telefonema de uma amiga minha vizinha de Vítor Baía que, devido a uma paixão incontrolável, seguia os passos do guardião e via-o entrar todos os dias na Igreja dos Congregados, dirigindo-se ao confessionário onde, entre lágrimas e murros no peito, bradava desesperado:« Senhor padre, perdoe-me porque pequei, faltando descaradamente à verdade!».
Quando as câmaras da OlivedesportosTV focaram o árbitro auxiliar, um homenzinho careca e algo anafado que coçava os olhos devido a alguma irritação ocular, lembrei-me de fazer uma pesquisa sobre as maleitas deste paciente e descobri tratar-se de um pasteleiro profissional. Ora, como é de conhecimento geral, a melhor guarnição para uma boa chávena de «café com leite» é um suculento bolo acabadinho de sair do forno, ou então, uma boa Salgado, perdão, um bom salgadinho. Alguma migalhinha deve ter entrado para a vista e causado danos irreversíveis na córnea, coitadito.
O regresso ao passado preconizado por Jorge Jesus fez-me temer o pior: o retorno à segunda metade da década de 80 onde alguns campos de futebol tinham uma inclinação mais prenunciada que as estradas do IP4. Os capítulos seguintes de «Tudo Bons Rapazes» não me desiludiram: no Benfica- Rio Ave (Olha, que surpresa!! Foi tudo tão súbito e inesperado...Nem sei o que dizer...), o segundo golo do Rio Ave é precedido de um fora de jogo tão notório que até o Mr. Magoo o assinalaria. Mas, para sermos coerentes, já na semana transacta o Naval marcara mercê de um escandaloso fora de jogo. Como não há duas sem três...
Foi bonita a iniciativa de solidariedade que ontem assistimos no Campo da Mata Real. Falo da homenagem que se fez ao andebolista Carlos Resende que fez carreira no ABC e especialmente no FCP, tendo chegado à posição de ícone do clube. Foi comovente ver César Peixoto, não uma, mas por duas vezes, no decorrer da mesma jogada, a jogar com as mãos na sua grande área, fazendo um poderoso e eficaz amortie. Foi um belo regresso ao passado. Assim como nos últimos segundos de jogo, quando, no âmbito de uma bola cruzada para a área, Pepe fez jogo perigoso baixando a cabeça ao nível das unhas dos pés. Qual acham que foi a decisão lógica do árbitro Pedro Proença?
a) Marcou livre indirecto contra o FCP na sua grande área.
b) Consultou o fiscal de linha sobre qual a punição a dar a Pepe.
c) Assobiou para o lado e marcou falta contra o Paços de Ferreira.

Se assinalou a resposta c, os nossos parabéns. VOCÊ GANHOU UMA MAGNÍFICA VIAGEM PARA FORTALEZA! Se tiver acesso à lista de passageiros, tenha atenção para ver se descobre um senhor chamado Pedro Oliveira Alves. O nome não lhe diz nada? Será que o nome completo ajuda? Pedro Proença Oliveira Alves Garcia?

2 comentários:

Unknown disse...

Não pude deixar de reparar que o mesmo olho clínico que o meu amigo revela para algumas situraçõs de jogo, também padece do "síndrome de pasteleiro" visado neste artigo. E, como seria de esperar, tal só acontece nos jogos do SLB. Coincidência ou fruto da costumeira clubite? Então o meu amigo Reys conseguiu vislumbrar (correctamente) o fora de jogo do golo do Rio Ave e não se apercebeu do caractér duvidoso (no mínimo) dos dois lances livres que acabariam por resultar nos golos do Benfica?

A ver futebol assim, talvez seja melhor o meu amigo aceitar uma humilde sugestão que lhe deixo: não perca tempo com esta modalidade desportiva - ela faz-lhe mal à vista - e comece a fazer os planos anunciados para o matrimónio. É que eu já estou a salivar pelas entradas de melão com presunto!

Um abraço.
Saudações axadrezadas.

JB disse...

Reys... pena é que a tua memória seja tão curta. O que até é compreensível, tendo em conta que nasceste depois do Estado Novo.