sexta-feira, novembro 26, 2010

Benfica Big Mac

No regresso aos posts depois de mais uma diarreia mental e de uma reciclagem neuronal, antes do jogo da época, um texto burlesco de Filipe Duarte Santos, hoje, no eterno jornal falido I:

Benfica: um clube que não consegue habituar-se a uma boa dieta de vitórias e que depois de um campeonato - neste século ganho de cinco em cinco anos - entra sempre no facilitismo, a comer aqui e ali, a ganhar acolá, a jogar para fingir que mata a fome. Benfica: um treinador que fala para o próprio dia, a encher a barriga e os ouvidos dos adeptos com um discurso orgulhoso que afinal é tudo menos garantia de saúde futura (veja os exemplos aqui o lado). Benfica: um Luís Filipe Vieira todo-poderoso mas que só pode alimentar a presidência com a ilusão de vitórias, como se estivessem ali à mão de semear no drive-in da Luz, na Segunda Circular. É por isso que terá de deixar cair Jorge Jesus, mais tarde ou mais cedo, porque não pode dar-se ao luxo de ter no banco um homem que lhe ofereça nada. O Benfica fast food consome-se num instante e vai matar mais um treinador, resta saber se já ou no final da temporada.

A derrota em Telavive contra o Hapoel, seguida de uns hambúrgueres noite dentro, depois de a comitiva ter perdido o avião, somou todos os contornos de gravidade possíveis: eliminação da Liga dos Campeões (3 milhões de euros perdidos no imediato), falência do balneário (escolhas duvidosas, jogadores a passo, treinador abandonado), ou a simples humilhação europeia (mais uma vez fica adiada a recuperação do prestígio internacional). A isto junta-se a realidade interna, ou a passadeira vermelha estendida ao FC Porto, isolado com dez pontos de vantagem. O que resta é a luta pelo segundo lugar do campeonato, a Liga Europa e a Taça de Portugal. E estas duas últimas competições jogam-se já em verdadeiras eliminatórias, em Dezembro, nos confrontos com o Schalke 04 e com o Sporting de Braga. Se a equipa de Jorge Jesus voltar a falhar, aí o treinador será naturalmente sacrificado.

Ainda na ressaca da euforia, com a vitória no último campeonato, Luís Filipe Vieira renovou o contrato a Jorge Jesus, até 2013, precavendo uma possível saída do treinador para o FC Porto. Agora, o presidente do Benfica é refém de um acordo do qual o JJ dificilmente abdica - ganha 1,5 milhões de euros por temporada. Jorge Jesus tem uma cláusula de rescisão de 6 milhões de euros, está blindado, mas despedi-lo pode custar mais de 4 milhões.

Se o treinador conseguir estabilizar a equipa até ao final da temporada, cumprindo objectivos mínimos como o segundo lugar na Liga (e entretanto pressionar o FC Porto) e uma campanha ainda longa na Liga Europa, lá para Março ou Abril Jorge Mendes deve entrar em cena. O empresário de Jorge Jesus, próximo de Luís Filipe Vieira, tentará encontrar um clube que possa levar o treinador para o estrangeiro, sem qualquer encargo para o Benfica. E assim cairá por terra uma ligação que em tempos parecia perfeita. Tão perfeita que Vieira colocou no contrato de Jesus um prémio de vitória na Liga dos Campeões.


Que desilusão. Que sobranceria.

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