Numa semana em que se falou abundantemente em envelopes e se fez o 27.º rescaldo da final da Carlsberg Cup, houve um acontecimento que passou quase despercebido: a greve dos jogadores do Estrela da Amadora.
Sem receber qualquer pagamento à já vários meses, os jogadores do estrela optaram (finalmente) por uma tomada de posição radical. Começaram a faltar aos treinos, em mais uma tentativa, desesperada, de chamar a atenção dos senhores do futebol que se sentam em cima de notas e decidem o rumo e a vida de todos os outros intervenientes do desporto-rei.
Por coincidência, na semana em que só treinou uma vez (treino de desntorpecimento antes do jogo), o plantel do Estrela preparava-se para receber o eterno candidato da 2.ª circular. O Benfica era o próximo adversário e as relações entre os dois clubes, históricas, parecia poder ajudar a dar mais relevo ao trágico assunto.
Engano. Meras declarações circunstanciais da comitiva encarnada, antes do jogo, porque a hora não era para beneficiência.
Com a vitória da véspera do Porto (convicente) em Guimarães, o nervoso miudinho começava também a fazer das suas, e Quique Flores parece cada vez mais isolado.
Começa o jogo, com o terível drama dos jogadores do Estrela como pano de fundo (nota: Celsinho, jogador emprestado pelo Sporting tinha sido protagonista, na sexta-feira, de mais um caso triste do futebol nacional: apanhado às 5 da manhã em excesso de velocidade… já que não se treina, ao mesmo um tipo diverte-se!). Aos 5 minutos o árbitro decide ajudar ainda mais os rapazes da reboleira: penalti sobre Nuno Gomes, que por acaso não existiu. A carga descarada fora da área é rapidamente transformada em castigo máximo.
Castigo máximo para o Estrela, portanto, que começa a partida a perder.
E mais um penalti sobre Nuno Gomes (até o artista principal desta história é irónico, parecendo mais um daqueles actores dos anos 50 especialistas em filmes B). O Estrela ainda reduz e, apesar de barriga vazia, os estrelistas ainda encontram forças para terminar a partida em cima do adversário.
O árbitro termina a terrível provação (dos jogadores do Estrela e dos adeptos do Benfica) e dá o jogo encerrado (tinha feito o seu papel e receberá um louvor do observador, entregue num envelope selado, com o seu nome escrito a caneta dourada).
Os jogadores do Benfica rumam ao balneário, satisfeitos por terem ganho um jogo a uma equipa inferior, com graves problemas financeiros e que está sem treinar à 10 dias, com todos os problemas que daí poderão advir. Os jornais do dia seguinte mostram o que se passou (menos um):
“Exibição miserável”
“Benfica vence com penalti inexistente”
“Benfica vence com ajuda do árbitro”
“Quique mais perto do fim”
“Quique envergonhado pela exibição”
“Benfica vence mas não convence”
A alma continua alimentada pelo sonho. A realidade pouco interessa, quando se trata de esconder o óbvio: não interessam os nomes, uma equipa é mais do que a soma das suas individualidades. Os jogadores do Estrela valem mais do que recebem actualmente. Os jogadores do Benfica valem menos do que recebem actualmente.
O Celsinho é dos poucos jogadores que tem o seu salário assegurado, porque se encontra emprestado pelo Sporting.
O Estrela da Amadora foi a melhor equipa em campo.
O Celsinho está suspenso e não pode treinar com os seus colegas (mas recebe).
Os seus colegas estão em greve e recusam-se a treinar sem receber.
O Benfica continua em terceiro.
O Estrela da Amadora perdeu um jogo épico, marcante.
Pelo que jogou, pelo que sofreu. Pela injustiça do resultado.
Pela má arbitragem. Pela falta de verdade desportiva.
Pela calúnia e pelo mal-dizer, antes e depois…
O roto (Estrela da Amadora) continua igual a si mesmo.
O furado (Benfica) continua a respirar com uma máscara de oxigénio.
Assim vai o nosso campeonato.
Mais uma jornada…
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