domingo, abril 12, 2009

Desabafo

Hoje é Domingo de Páscoa e da minha cozinha emanam aromas idílicos. Adivinho um arroz malandrinho de marisco e um cabritinho assado no forno. Contudo, a minha alma encontra-se moribunda: estou há largos minutos fitando o monitor do meu computador, esperando que as palavras de revolta fluam. Tento responder ao desafio de dois grandes amigos, que espevitando-me o orgulho, aguardam que eu ajude a ressuscitar o espírito que esteve subjacente à fundação deste blog há cinco anos atrás, o de demonstrar que pode haver uma sã rivalidade entre adversários desportivos. Mas, confesso: este país sufoca-me, definho aos poucos. Revejo os meus antigos posts e vejo que nada mudou. Abro a janela e deparo-me com hipocrisia disfarçada de respeitabilidade.

Tinha prometido que não mais colaboraria nos «Donos da Bola» enquanto não acabasse o processo Apito Dourado, independentemente do desfecho. Tinha prometido que não mais expressaria a minha voz, enquanto grassasse a corrupção e o tráfico de influências no futebol. «Só no futebol?», questionam-me.

Trabalho numa vila (Cabeceiras de Basto) em que os locais consideram normal o tráfico de influências e até a encorajam. Sirvo um primeiro-ministro com tiques de ditador que tenta emperrar um processo judicial em que se encontra envolvido. Desconto todos os meses para alimentar uma Justiça que considere normal que um alto dirigente futebolístico receba em sua casa, a horas impróprias, um árbitro que dirigirá um jogo seu poucas horas depois. E definho, definho.

E dou comigo a discutir calorosamente com o meu lado negro que começa a ceder à podridão. Todas as noites, ouço vozes que me impelem a ir pedir sociedade ao Reinaldo Teles na Taberna do Infante. Em vésperas de abraçar projectos matrimoniais e familiares, olho-me ao espelho na esperança de encontrar a melhor forma de explicar aos meus futuros filhos que não se devem deixar contaminar pelo país em que vivemos. Mas como lhes vou explicar da melhor forma que o mérito deve ser recompensado na justa proporção do esforço e trabalho desenvolvido? Como lhes vou transmitir a mística quando vejo um clube ganhar títulos graças ao esforço contínuo dos 75 jogadores que se encontram emprestados a clubes da 1ª Liga? Como irei ensinar aos meus filhos a não acreditar em tudo o que leiam nos jornais, já que todos os órgãos de imprensa estão condicionados por interesses pessoais e empresariais…

Cinco anos depois, tudo está na mesma. Jornalistas avençados a promoverem as valias de Cissokhos, Pinto da Costa accionista da Cofina, golos limpos a serem anulados ao Benfica na Luz e Guilhermes Aguiares a serem anunciados como próximos Presidentes da Liga.

Os «Donos da Bola» ressuscitaram neste Domingo da Páscoa, mas a Verdade Desportiva já se encontra enterrada há muito tempo.

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