
Um dos grandes momentos literários da época do defeso não teve a chancela de Dan Brown ou de José Saramago. Foi protagonizado pelo actual técnico do FCP que todos os dias escrevia para o site oficial da instituição que representa. A esse interessante conjunto de textos em que o técnico expressava todas as suas considerações sobre o plantel, deu-se o nome de «O Diário de Co», designação bastante familiar a todos os utentes que resolvem lutar contra a prisão de ventre ao raiar da manhã. Aliás, o texto arrisca-se a ser candidato ao Prémio Nacional de Imprensa na categoria de «Titulo Literário do Ano», galardão arrecadado no ano passado com a peça teatral «Monólogos da Vagina».
O que a maioria do grande público desconhece é que «O Diário de Co» foi sujeito a aturada censura que estraçalhou de forma impiedosa algumas das passagens escritas pelo técnico holandês, nomeadamente aqueles que continham críticas directas ou indirectas à estrutura orgânica do clube. Felizmente, Os Donos da Bola, em exclusivo mundial, conseguiu aceder a esses trechos censurados, os quais reproduzimos aqui na íntegra:
29 de Maio de 2005- «Finalmente consegui superar um imbróglio jurídico que me impedia de assinar o contrato de trabalho com o FCP. Os advogados do clube queriam que eu assinasse uma declaração em que autorizava que a direcção da SAD me pudesse demitir ao fim de trinta dias de trabalho caso os resultados não fossem do seu agrado. Recusei liminarmente e passei duas horas a fazer pesquisa na Internet. Pensava eu que, assim como existe um clube na Tailândia chamado Juventus e um Benfica de Huambo em Angola, poderia haver outro clube com a designação de Futebol Clube do Porto no Burkina-Faso ou no Laos, pois a proposta que me fizerem é digna de um clube de Terceiro Mundo.»
1 de Junho de 2005- «Chego ao aeroporto de Pedras Rubras, onde os funcionários do FCP me conduzem até às instalações do clube. Fico maravilhado com o Estádio, mas não deixo de conter os espirros devido àarquitectura estrutural do Estádio do Dragão que é propícia às correntes de ar. Ainda com o muco nasal a escorrer-me pela cara que sou conduzido à presença do Presidente Pinto da Costa que reconheço imediatamente das suas fotografias do site da FBI's Most Wanted. O Presidente cumprimenta-me com educação e abre-me as portas do seu gabinete onde estavam lá mais quatro pessoas cujas feições me fizeram tremer de pavor e confesso que a minha face não conseguiu deixar de esconder a repugnância por essas figuras, uma feminina e três masculinas. A mulher tinha cara de «escort-girl» e os homens assemelhavam-se: um a um proxeneta, outro a um alcoólico e finalmente o mais jovem a um toxicodependente. Assustado, pedi a intervenção de um tradutor que me acalmou e me apresentou às personalidades, respectivamente Carolina Salgado, Reinaldo Teles, Guarda Abel e Fernando Madureira. O mesmo tradutor referiu-me que são figuras com enorme peso institucional no clube e que tinham feito questão em receber-me.»
2 de Junho de 2005- «Insisti em apresentar-me ao plantel nos balneários. Esta é uma velha premissa minha, gosto de manter uma relação cordial e dialogante com os meus jogadores. Reuni-me com os meus adjuntos e depois de ter colocado o Rui Barros ao meu colo e de lhe ter dado um pouco de algodão doce, descemos as escadas em direcção ao balneário. Aí, deparei-me com a maior confusão que já presenciei em 16 anos de treinador: os 276 jogadores brasileiros estavam a dançar ao som de uma música de Ivete Sangalo e o Ricardo Quaresma tinha uma pequena banca em madeira onde estava a vender corsários, t-shirts e camisas de dormir. Para cúmulo e minha estupefacção, o Vítor Baía e o César Peixoto envergavam vestidos de noite com lantejoulas. Inquiri-os sobre o motivo de tão estranha indumentária num recinto desportivo ao que os dois jogadores responderam que estavam apenas a experimentar a qualidade das roupas que iriam ofertar como presente às namoradas respectivas, uma tal de Merche Romero (pelo nome depreendo que será taróloga) e uma Isabel Figueira. Perante tal manifestação de indisciplina, não consegui conter a minha ira e as minhas primeiras palavras ao plantel do FCP tiveram como tema a disciplina, para mim a principal premissa para tornar campeões um grupo de jogadores medianos. Como me informaram que em Portugal é moda os treinadores falarem de si na terceira pessoa, terminei o meu discurso com uma frase que sintetiza todo o meu pensamento e a importância da disciplina e temperança: «Tenham cuidado com o olho de Co». Imediatamente todos colocaram as mãos atrás das nádegas ao mesmo tempo que olhavam para Vítor Baia e Peixoto. Imediatamente Pedro Emanuel tomou a palavra: «Sim, mister, já sabíamos, o Fernandez já nos tinha avisado».
25 de Julho de 2005- Decorre com normalidade o nosso estágio. Mas a todas as horas me questiono: «Meu Deus, como é possível haver tantos jogadores sofríveis neste plantel? Quanto o Sokota chuta numa bola, a única rede em que consegue acertar é na rede emitida pela antena de telecomunicações que está montada no telhado do nosso hotel, a 13 metros de altura. Então e o Capitão? Verifico com rigor que já não estã dentro dos padrões de qualidade exigíveis a um central. Para o testar, mandei o Jorge para o fundo do campo tentar cortar uma bola a um adversário que dele se aproximava em velocidade. Para essa função, escolhi o meu adjunto Wil Coort, que para além de ter 73 anos e duas hérnias discais, possui na perna direita uma prótese em liga de carbono que lhe tolhe os movimentos. Não é que o Coort conseguiu passar pelo Jorge Costa em velocidade e que este se viu obrigado a recorrer à falta, aplicando-lhe uma violenta cotovelada na face e uma biqueirada na virilha? O facto positivo desta situação é que acabou indirectamente por fazer do Coort um poliglota pois ele agora com 5 dentes partidos, sempre que tenta falar comigo em Holandês, acaba sempre por sair algo em Galego e com muitos X's. O Tomo e o Jorge terão de ir para a lista de dispensas.»
(Continua na próxima edição)
O que a maioria do grande público desconhece é que «O Diário de Co» foi sujeito a aturada censura que estraçalhou de forma impiedosa algumas das passagens escritas pelo técnico holandês, nomeadamente aqueles que continham críticas directas ou indirectas à estrutura orgânica do clube. Felizmente, Os Donos da Bola, em exclusivo mundial, conseguiu aceder a esses trechos censurados, os quais reproduzimos aqui na íntegra:
29 de Maio de 2005- «Finalmente consegui superar um imbróglio jurídico que me impedia de assinar o contrato de trabalho com o FCP. Os advogados do clube queriam que eu assinasse uma declaração em que autorizava que a direcção da SAD me pudesse demitir ao fim de trinta dias de trabalho caso os resultados não fossem do seu agrado. Recusei liminarmente e passei duas horas a fazer pesquisa na Internet. Pensava eu que, assim como existe um clube na Tailândia chamado Juventus e um Benfica de Huambo em Angola, poderia haver outro clube com a designação de Futebol Clube do Porto no Burkina-Faso ou no Laos, pois a proposta que me fizerem é digna de um clube de Terceiro Mundo.»
1 de Junho de 2005- «Chego ao aeroporto de Pedras Rubras, onde os funcionários do FCP me conduzem até às instalações do clube. Fico maravilhado com o Estádio, mas não deixo de conter os espirros devido àarquitectura estrutural do Estádio do Dragão que é propícia às correntes de ar. Ainda com o muco nasal a escorrer-me pela cara que sou conduzido à presença do Presidente Pinto da Costa que reconheço imediatamente das suas fotografias do site da FBI's Most Wanted. O Presidente cumprimenta-me com educação e abre-me as portas do seu gabinete onde estavam lá mais quatro pessoas cujas feições me fizeram tremer de pavor e confesso que a minha face não conseguiu deixar de esconder a repugnância por essas figuras, uma feminina e três masculinas. A mulher tinha cara de «escort-girl» e os homens assemelhavam-se: um a um proxeneta, outro a um alcoólico e finalmente o mais jovem a um toxicodependente. Assustado, pedi a intervenção de um tradutor que me acalmou e me apresentou às personalidades, respectivamente Carolina Salgado, Reinaldo Teles, Guarda Abel e Fernando Madureira. O mesmo tradutor referiu-me que são figuras com enorme peso institucional no clube e que tinham feito questão em receber-me.»
2 de Junho de 2005- «Insisti em apresentar-me ao plantel nos balneários. Esta é uma velha premissa minha, gosto de manter uma relação cordial e dialogante com os meus jogadores. Reuni-me com os meus adjuntos e depois de ter colocado o Rui Barros ao meu colo e de lhe ter dado um pouco de algodão doce, descemos as escadas em direcção ao balneário. Aí, deparei-me com a maior confusão que já presenciei em 16 anos de treinador: os 276 jogadores brasileiros estavam a dançar ao som de uma música de Ivete Sangalo e o Ricardo Quaresma tinha uma pequena banca em madeira onde estava a vender corsários, t-shirts e camisas de dormir. Para cúmulo e minha estupefacção, o Vítor Baía e o César Peixoto envergavam vestidos de noite com lantejoulas. Inquiri-os sobre o motivo de tão estranha indumentária num recinto desportivo ao que os dois jogadores responderam que estavam apenas a experimentar a qualidade das roupas que iriam ofertar como presente às namoradas respectivas, uma tal de Merche Romero (pelo nome depreendo que será taróloga) e uma Isabel Figueira. Perante tal manifestação de indisciplina, não consegui conter a minha ira e as minhas primeiras palavras ao plantel do FCP tiveram como tema a disciplina, para mim a principal premissa para tornar campeões um grupo de jogadores medianos. Como me informaram que em Portugal é moda os treinadores falarem de si na terceira pessoa, terminei o meu discurso com uma frase que sintetiza todo o meu pensamento e a importância da disciplina e temperança: «Tenham cuidado com o olho de Co». Imediatamente todos colocaram as mãos atrás das nádegas ao mesmo tempo que olhavam para Vítor Baia e Peixoto. Imediatamente Pedro Emanuel tomou a palavra: «Sim, mister, já sabíamos, o Fernandez já nos tinha avisado».
25 de Julho de 2005- Decorre com normalidade o nosso estágio. Mas a todas as horas me questiono: «Meu Deus, como é possível haver tantos jogadores sofríveis neste plantel? Quanto o Sokota chuta numa bola, a única rede em que consegue acertar é na rede emitida pela antena de telecomunicações que está montada no telhado do nosso hotel, a 13 metros de altura. Então e o Capitão? Verifico com rigor que já não estã dentro dos padrões de qualidade exigíveis a um central. Para o testar, mandei o Jorge para o fundo do campo tentar cortar uma bola a um adversário que dele se aproximava em velocidade. Para essa função, escolhi o meu adjunto Wil Coort, que para além de ter 73 anos e duas hérnias discais, possui na perna direita uma prótese em liga de carbono que lhe tolhe os movimentos. Não é que o Coort conseguiu passar pelo Jorge Costa em velocidade e que este se viu obrigado a recorrer à falta, aplicando-lhe uma violenta cotovelada na face e uma biqueirada na virilha? O facto positivo desta situação é que acabou indirectamente por fazer do Coort um poliglota pois ele agora com 5 dentes partidos, sempre que tenta falar comigo em Holandês, acaba sempre por sair algo em Galego e com muitos X's. O Tomo e o Jorge terão de ir para a lista de dispensas.»
(Continua na próxima edição)

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