quinta-feira, fevereiro 24, 2005

A Velha Escola


Este artigo não pretende ser sarcástico mas apenas criticar uma tendência moderna do futebol português: o uso agressivo do cotovelo como forma de alcançar maior aerodinâmica no salto. De facto, a velha frustração da Humanidade, isto é, o não saber voar como as aves, está cada vez mais a ser transposta para os relvados, fazendo perigar a integridade física dos jogadores.
Tal como os patos e os albatrozes que ganham impulsão só pelo bater das asas, o jogador português pensa que, através dos cotovelos, pode chegar de cabeça a um esférico que está a 3 metros de altura. De facto, assistimos a voos, não de jogadores, mas de obturações, pontes dentárias, caninos, molares e às vezes olhos de vidro que fazem voo picado para o relvado onde através das maravilhas da bio-degradação, acabarão por enriquecer a parafernália de sedimentos e matéria orgânica que ajudam a tornar a relva tão viçosa.
Os diversos processos sumaríssimos que têm vindo a enriquecer as conversas de café dos adeptos nacionais foram a meu ver, todos eles, bem aplicados. Até o de Simão. Apesar de Trapattoni ter tentado desculpabilizar o sucedido alegando que lances como esse são normais, o facto é que só em Portugal se assiste a tanto festival de cotoveladas. Simão foi bem castigado, apesar de as imagens da SportTV não serem as mais nítidas. Acredito piamente que tenha sido sem qualquer intenção, daí que a minha única crítica seja o castigo aplicado: 2 jogos??!! Ou seja, um jogo a menos que a penalização atribuída à bárbara agressão de Rafael a João Pereira. Só em Portugal é que assistimos a estas doses de equidade jurídica.
A cotovelada de Simão a Alex, seu ex-colega de equipa, faz lembrar os velhos métodos da não menos ancestral «Escola das Antas», onde raro era o jogo onde Paulinho Santos não colocava em prática o velho instinto de primata e aplicava a velha cacetada mística perante o êxtase do Tribunal das Antas. E às vezes os jogadores do FCP não poupavam antigos colegas de equipa. Lembro-me perfeitamente de um Famalicão-FCP na época de 91-92 onde o búlgaro Mitharski aplicou um valente soco ao central Jorginho quando apenas 6 meses antes tinham sido companheiros no Famalicão. E quem se esquecerá do maxilar partido de Bino durante um Belenenses-FCP em que Paulinho Santos mandou às malvas os anos de amizade que o ligavam a Bino e pregou-lhe uma valente e intencional cotovelada.
Veremos que tipo de jogo nos reservará o FCP-Benfica de 2ª feira. Para já, não começou nada bem para nós benfiquistas: a nomeação de António Costa cheira a provocação (lembras-te, Kandaurov?) e hoje, fomos obsequiados com a despenalização de Macaco Carthy pelos desembargadores nortenhos do Conselho de Justiça, ou seja, o habitual. O que nos alegrou ainda foi o golito do Martins e a entrada no relvado de Vítor Baia ao som da música dos Village People, o que veio reforçar ainda mais o prestígio internacional do guardião, especialmente em alguns bairros de Amesterdão.

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