segunda-feira, janeiro 24, 2005

O Dia em que Passei a Acreditar em Bruxas


Sempre fui um homem de ciência. Os fenómenos paranormais passaram-me sempre ao lado, Não acreditava em almas penadas, bruxedos, feitiços, maus-olhados e práticas de adivinhação. Até ontem à noite...
Moro num prédio tranquilo com oito locatários. Gente simpática, sossegada e trabalhadora. No 2º Direito, vive uma senhora cabo-verdiana, já viúva e com dois filhos já criados. Dizem as más-línguas que ela é bruxa e espírita. Eu não acreditava. Até ontem à noite...
Sempre achei a senhora um tanto ou quanto excêntrica. O seu dialecto crioulo, a sua vestimenta exótica, a grande movimentação de senhoras idosas a entrar e a sair do seu apartamento aos Sábados à tarde. Nunca tinha dado grande importância à situação. Até ontem à noite...
Os meus pais sempre a respeitaram e acreditavam que a senhora, de uma forma pouco ortodoxa, conseguia prever o futuro. Conta-me a minha mãe (era eu muito pequenito, não me lembro) que, numa noite estrelada de Dezembro de 1980, ouviu-se um enorme grito no prédio: «Num enchê a barriga cum bolachas porqui estò a fazê o jantá, tou a aSSÁ CARNÊRO!!». Era a dilecta senhora a vociferar com o marido. E por coincidência, duas horas depois, caía o avião em Camarate. E na altura, todo o prédio ficou arrepiado: o meu pai conta-me que me viu na sala de estar, em frente à televisão, atento ao Noticiário Especial, abraçado a um poster do Humberto Coelho. Durante os anos seguintes, a senhora continuou a fazer premonições exactas, criando uma aura de santa. Mas eu continuava a duvidar. Até ontem à noite... Há um mês, concedi-lhe o benefício da dúvida. Estava preparado para me recolher ao leito quando ouvi a senhora gritar ao filho: «Fechá já emidiatamênti à tornêra di auga. Já te dize qui nom temos dinheiru prá banho di imersom.». O que eu pensava ser apenas um episódio trivial da vida doméstica acabou por ser um acto de adivinhação quase divina: na manhã seguinte, os noticiários abriram com a notícia do tsunami. E eu dei comigo a pensar: só podia ser uma coincidência. Achava eu. Até ontem à noite...
Ontem de manhã, a voz estridente da bruxa voltou a ecoar. Desta vez avisava o filho mais velho: « Vê si trasses um polvo bem fresquinhu que eu queru fazê um arros malandrinhu Fabolôso». Então resolvi colocar em prática quase 20 anos de leitura de Sir Arthur Conan Doyle e armar-me em Sherlock Holmes. Que diabo queria significar aquele dito culinário? Repentinamente, lembrei-me de uma série de culto produzida pela RAI: La Piovra (O Polvo) protagonizada por Michele Placido que interpretou de forma magistral o Comissário Cattani, um detective policial que lutava obstinadamente contra as ramificações da Máfia italiana, pagando amargamente pelos seus sucessos com o assassinato da sua mulher, filha, amantes e amigos. E depois lembrei-me de uma entrevista de José Mourinho onde este comparava o Porto à cidade de Palermo. E quando a senhora bruxa falou em Fabuloso, das duas uma: ou estava a falar em detergente de lava- loiça ou então no « génio da bola» Luís Fabiano, uma das contratações do F. C. Porto.
Tornara-se evidente como o vinho nas ânforas das Bodas de Canãa: algo de estranho iria acontecer durante o U.Leiria-F.C.Porto desse dia. Percebi imediatamente que podia ser algo ligado à arbitragem. Liguei imediatamente para a SAD do Porto a perguntar quem seria o árbitro do jogo. Responderam-me: « Ó meu amigo, de que jornada é que está a falar? Já conhecemos a designação dos árbitros que vão apitar os nossos jogos até à 34ª jornada!!» E, eu néscio, retorqui: «Não, não, para o jogo de hoje.» E do outro lado da linha, a voz ecoou qual Jeová a entregar os Dez Mandamentos no Monte Sinai: NUNO ALMEIDA!!!
Não podia ser. Estão loucos, pensei eu. Nomear um árbitro inexperiente para um jogo desta importância? O FCP já não ganha há três jornadas e as acções da SAD caíram mais a pique do que o Fidel Castro quando partiu o braço! Deve ser brincadeira. Então, surgiu o meu Grilo Falante: «Meu filho, quando será que começas a perceber os meandros da Cosa Nostra
Finalmente caí em mim. Ainda há poucos dias tinha enviado para este blog um post onde qualifiquei a arbitragem do Leiria-Porto da época 1996-1997 como a mais incompetente dos últimos 50 anos. E o Leiria sempre teve azar nas arbitragens dos seus jogos com o FCP: quem se recordará da forma como o Porto venceu a Supertaça do ano passado? Num jogo arbitrado pelo major Pedro Henriques, o FCP venceu o jogo por 1 a 0 num golo de Costinha que empurrou o guarda-redes Hélton para o fundo da baliza. Hilariante! Aliás João Bartolomeu já acha normal ser prejudicado nos jogos contra o FCP. Isso e vender os seus melhores jogadores ao FCP ao preço da uva mijona.
E esperei pelo cair da noite e as premonições da bruxa não estiveram erradas: o golo do FCP nasce de um pontapé de canto inexistente e Luís Fabiano não quis ficar atrás dos dotes pugilistas do Macaco Carthy e deu uma incisiva cotovelada no rosto do veterano Renato, que (ingrato) se esqueceu de agradecer aquele gesto de carinho do jogador que um dia Pinto da Costa considerou como o melhor ponta de lança da América do Sul. E só levou um cartão amarelo, a conselho do mesmo fiscal-de-linha que não viu o golo de Petit contra o FCP. Coincidências? Como diria Margarida Rebelo Pinto, «Não Há Coincidências».
Alguém ficou surpreendido com a ausência de árbitros portugueses na pré-convocatória da FIFA para o Campeonato do Mundo? Eu, não. Porquê? Porque sou daqueles que divide os árbitros nacionais em dois tipos: os incapazes e os vergonhosos. Uma arbitragem incapaz é feita por um indivíduo que durante 90 minutos erra para os dois lados. O melhor exemplo disso é Bruno Paixão e mais uns 20. Uma arbitragem vergonhosa é aquela que Nuno Almeida fez: errou muito e só para um lado. O lado siciliano. E no final do jogo, Pi(n)to Costeone ainda fez um remoque acerca da expulsão de MacCarthy. Estes palermas, perdão Palermos têm um sentido de humor muito refinado...

PS- Alguém percebeu a substituição de Helton ao intervalo? Do mesmo jogador que dias atrás foi apontado como sendo reforço certo do FCP para a próxima época? Será que também na Sicília, «Não Há Coincidências?»

1 comentário:

Unknown disse...

Nem o arroz malandrinho precisa de polvo, nem o episódio Helton teve qualquer relação com o FCP. O guarda-redes brasileiro discutiu com colegas antes do termo da primeira parte - foi visível na transmissão televisiva - e o arrufo prolongou-se durante o intervalo, alegadamente envolvendo insultos a Vitor Pontes. Daqui resulta a mais que natural substituição...sem bruxas!