terça-feira, fevereiro 07, 2012

Carta pessoal para alguém com idade para ser meu filho



Meu caro Nélson,

perdoa-me a familiaridade com que te escrevo. Não me conheces de lado nenhum, sou apenas um ser insignificante com pretensões de grandeza, quase a entrar na meia-idade. Bem, exagero um pouco, mas escrevo-te com a autoridade emanada pelo supremo laço que nos une: o nosso benfiquismo repleto de Mística que embala a alma com os acordes celestiais entoados por uma horda fraternal espalhada pelos quatro cantos do Mundo.
Confesso que já há muito que não escrevo uma carta. Estou, portanto, enferrujado! Fui um perito nos meus tempos áureos, em escrever cartas de amor, pinceladas de romantismo sempre que o sentimento não era correspondido. Mas, de repente, passei em revista as dezenas de cartas que escrevi a amigas e apaixonadas e apercebi-me que houve um amor correspondido a quem nunca escrevi: o nosso Benfica.
Espero não estar a ser leviano quando uso aqui o pronome pessoal «nosso». Sabes que resido em Braga e às vezes, falo com pessoas que acompanharam o teu percurso juvenil aqui na Cidade dos Arcebispos e que me asseguram sob as mais diversas formas que nunca foste benfiquista, que as tuas preferências eram mais azuladas. Não importa! Nem todos podem ser como eu, que nasci às 16 horas e 20 minutos de um dia em que o Benfica veio espetar três batatas em pleno Estádio das Antas ao F.C.Porto do Tibi, Leopoldo Bacalhau, António Oliveira e Cubillas. Desde o momento em que berrei o pleno sopro da vida, respirei Benfica a plenos pulmões e todos os dias peço a Deus para que cumpra perfeitamente o meu ciclo da vida, deixando-me morrer na mesma noite em que o Benfica seja campeão, tal e qual como Sócrates com o seu Corinthians...
Quanto te vi a espalhar o teu talento no Mundial e, sobretudo a brilhar no jogo com o Marítimo, percebi imediatamente que o futuro da nossa instituição estava garantido, que a posterioridade estava consolidada. E, quando deixaste a tua humildade vir ao de cima no contacto com os jornalistas, afirmando que ainda tinhas muito a provar, esqueci-me das decepções que nomes como Edgar, Hugo Leal e Maniche inculcaram na minha esperança benfiquista, traindo as suas convicções por 30 dinheiros.
Sê paciente, meu rapaz e lembra-te: já conquistaste os adeptos mais exigentes que esta Pátria Benfiquista alguma vez teve. E tal como o Fernão Capelo Gaivota, voa com paixão, voa com ousadia, voa com coragem, mas VOA COMO UMA ÁGUIA!

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