quinta-feira, março 10, 2005


Muitas vezes, o futebol tem o seu lado trágico que não é transposto para as conversas de café. Nas discussões entre amigos por causa de um penalty mal assinalado ou de um golo em fora de jogo, esquecemo-nos que o futebolista é um ser humano e, como tal, sujeito a emoções extremas e a problemas pessoais que tenta não transpor para o campo.
No ano passado, todo o país chorou a morte de Miki, independentemente da clubite e lançou a público o debate sobre a qualidade da assistência médica nos estádios de futebol. E por ter morrido em campo, Fehèr passou de jogador dispensável a símbolo do Sport Lisboa e Benfica. Dez anos antes, Cherbakov, um dos mais promissores jogadores do plantel leonino, foi vítima de um brutal acidente, pouco após ter saído embriagado de uma das mais badaladas discotecas lisboetas. Paralisado numa cadeira de rodas, foi marginalizado pelo mundo do futebol ano após anos até cair no olvido total, ainda com a secreta esperança de voltar a jogar.
João Manuel era um jogador mediano mas de grande carisma, o que o tornava num elemento importante para qualquer balneário. Em Setembro deste ano, durante um treino do Moreirense, um salto mal calculado provocou-lhe uma queda aparatosa no relvado. A lesão demorou a debelar e o veredicto dos serviços médicos foi conclusivo: esclerose múltipla. Os dirigentes do seu clube indicaram-lhe a porta de saída, apesar de sensibilizados com o drama humano do jogador. O seu seguro profissional não contemplava aquela doença. Dia após dia, o estado físico de João Manuel degenerava, a ponto de as suas palavras se tornarem quase imperceptíveis. Na passada segunda-feira foi homenageado pelos seus pares e antigos adversários na arte do pontapé na bola. Só 500 pessoas compareceram para aplaudi-lo. Quantos de nós conseguiram esconder uma lágrima quando o vimos a entrar no relvado, amparado pelo seu filho, com um colar cervical a esconder a atrofia dos seus músculos? Era a triste despedida de um veterano respeitado que agora enfrentará a sua maior batalha: a luta pela vida.

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