quinta-feira, janeiro 20, 2005

Os Miseráveis: a Lenta Queda da Camorra

Os Miseráveis: a Lenta Queda da Camorra

Tergiversar. Verbo Intransitivo. Para os menos cultos, significa «utilizar subterfúgios». Não sei porquê, durante os últimos dias, sempre que Nuno Cardoso tentava utilizar o seu medíocre dom da palavra articulada com um quase iminente ataque de asma, era essa a palavra que se me aflorava à mente: tergiversar. Na sua conferência de imprensa dada após ter sido constituído arguido, Cardoso tentou desviar as atenções da opinião pública em relação a um (?) caso judicial, apresentando toda esta conjuntura como uma cabala voluntária de Rui Rio e de Aguiar Branco com o objectivo fulcral de prejudicá-lo. Mai’ Nada…
Victor Hugo um dia escreveu que «a filosofia persegue o mal com o seu olhar e não o deixa fugir». A evidente desorientação de Nuno Cardoso é um sinal evidente de que, muito lentamente, o temível império da Camorra azul e branca está a definhar: Apito Dourado, Investigação da Inspecção-Geral de Finanças à Câmara de Gaia por causa da cedência do Centro de Estágio de Gaia, Operação Fisco, etc… Muitos são os sinais da mudança e o povo sedento de Justiça, habituado a ver os poderosos a fugir subtilmente à sua punição, espera ansiosamente pela concretização de um velho lema que até já foi tema de um álbum dos Metallica: «E Justiça Para Todos…»
Durante os dezoito meses em que esteve à frente da Câmara Municipal do Porto, Nuno Cardoso acumulou uma série de erros que só poderão ter uma explicação: inépcia. Lembram-se da construção de prédios num lote do Parque da Cidade antecedida de uma hábil manipulação do Plano Director Municipal? Ou o processo das Torres Altis? A vergonhosa paragem nas obras da Casa da Música? A minimização das derrapagens orçamentais do Porto 2001? A discrepância gritante entre os subsídios atribuídos às diversas colectividades desportivas do Município? O facto de o Futebol Clube do Porto receber mais dinheiro em subsídios trimestrais do que o Boavista, o Salgueiros, o Ramaldense, o Progresso, o Pasteleira, o Foz, o Desportivo de Portugal, o Clube Fenianos Portuenses e o Clube Fluvial Portuense anualmente todos juntos? Para já não falar do inefável Plano de Pormenor das Antas…
Pinto da Costa sempre tratou os executivos camarários como feudos do Futebol Clube do Porto. Ele era o suserano e Fernando Gomes, Nuno Cardoso e Luís Filipe Meneses foram os seus mais dilectos vassalos, cumprindo com rigoroso zelo a encapotada delapidação dos fundos autárquicos na glorificação orçamental de um clube de bairro, fugindo habilidosamente à Lei. Lei? O que é a Lei? Mais importante é a caça ao voto!! Estamos a falar de um clube com perto de 25 mil sócios pagantes, que se lixe a Lei!! Mas quando um dia, qual Marat, Danton ou Robespierre durante a Revolução Francesa, Rui Rio decidiu acabar com essas relações feudais e findar com a promiscuidade entre política e futebol na Câmara do Porto, caiu então o Carmo e a Trindade. Ou então, como falámos do Porto, caiu a Batalha e os Clérigos. Rio foi alcunhado de traidor só porque resolveu cumprir a Lei, tal como o juiz Paolo Borsallino na Sicília, durante a década de 90.
Começou assim uma vergonhosa campanha anti- Rui Rio que em certas ocasiões passou do insulto subentendido ao insulto velado. Um desses rostos foi Alfredo Barbosa que muito recentemente foi convidado a abandonar a Rádio Festival por ter entrado em rota de colisão com o dono Luís Montez. A nível nacional, Alfredo Barbosa não é um nome sonante. Mas no panorama desportivo nortenho e portista é uma figura do Regime. Entre 1993 e 2000 foi o Director do jornal desportivo O Jogo que só era lido por dois estratos sociais: os adeptos do FCP e os transeuntes que sofriam de desinteria ao caminhar na via pública e que entravam a correr no quiosque mais próximo para comprar um jornal que fosse absorvente e que não arranhasse as hemorróidas. Para os que me acusam de ser faccioso e me dizem: «Mas A Bola não é benfiquista?», «O Avante não é comunista?». A esses respondo com factos: época 1996-97, 2ª jornada, Estádio Municipal de Leiria. O União local, treinado por Vítor Manuel recebia o Futebol Clube do Porto treinado por António Oliveira. Na jornada anterior, o FCP tinha recebido nas Antas o Vitória de Setúbal e quando o relógio atingiu os 90 minutos, o Setúbal vencia tranquilamente por 2 bolas a zero. O Tribunal das Antas assobiava fortemente as opções de Oliveira e o árbitro Mário Leal de Leiria resolveu dar uma ajudinha ao ex-seleccionador nacional. Prolongou o jogo por mais onze (!) minutos, sem justificação para tal. E assim, aos 95 e 99 minutos, o FCP chegou ao empate e no final do encontro o speaker de serviço, em vez de sortear a bola de jogo, anunciou ao microfone que iriam sortear 5 cassettes VHS do filme O Padrinho. Significativo… Para o encontro da 2ª jornada, a Comissão de Arbitragem nomeou um árbitro internacional que se encontrava em fase descendente: Pinto Correia de Lisboa. E em Leiria, nessa tarde, sem transmissão televisiva, assistiu-se à arbitragem mais vergonhosa e ignominiosa dos últimos 50 anos: dois golos do FCP marcados em nítido fora de jogo, Vítor Baía defendeu a bola com as mãos fora da grande área sem ser expulso (nascia assim um mito), Aloísio, qual Shaquille O’Neal, tirou a bola da cabeça do avançado leiriense Maurício, utilizando para o efeito por duas vezes a mão, Jorge Costa agrediu ao pontapé o médio Mário Artur (até parece impossível, não é? etc. O FCP venceria por 3-0 e pela primeira e única vez no seu historial, o jornal Record pontuou um árbitro com a nota 0 (a classificação é atribuída de 1 a 5). O cronista de serviço do Record, José Manuel Delgado inventou a expressão que faria escola: «O Relvado estava inclinado só para um lado». A Bola apelidou a arbitragem de escandalosa. O Jogo de Alfredo Barbosa disse que a arbitragem esteve infeliz para os dois lados, sem qualquer influência no resultado. Não me lembro do nome do cronista de serviço mas acho que era qualquer coisa como Mário Puzo. Foi no dia seguinte que Pinto da Costa ao ler o seu jornal tomou a decisão de diminuir drasticamente a tiragem da revista Dragões. Não fazia qualquer sentido ter dois órgãos oficiais de imprensa…
Até ao fim de Dezembro, Alfredo Barbosa detinha dois programas de sua autoria na Rádio Festival: uma crónica diária intitulada «Independentemente» e um programa dominical de entrevistas a personalidades nortenhas. A partir do momento em que Rui Rio assumiu a Edilidade, Barbosa convidou para o seu programa de Domingo personalidades insuspeitas e independentes: Manuel Serrão, Rui Moreira, Luís Filipe Meneses, Pôncio Monteiro, Orlando Gaspar, Fernando Gomes, Bernardino Barros, Nuno Cardoso e D. Armindo Lopes Coelho, todos eles graciosos críticos de Rio Rio, ou como Rui Santos (indiscutivelmente o melhor comentador desportivo da actualidade) os apelidou, os «emplastros» do costume. Quando foi convidado a sair, revoltou-se e comparou-se a Marcelo Rebelo de Sousa. Com o devido respeito, é como tentar comparar um José Saramago a um Possidónio Cachapa…

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