segunda-feira, novembro 28, 2011

O Dono do Shopping



Sábado, 17:00 horas. No maior hipermercado de Braga:
Ela- Não achas que este ano demos menos coisas para o Banco Alimentar Contra a Fome?
(Deixo-a a pensar que sim, embora a minha mente esteja longe, muito longe. Será que Luisão iria recuperar a tempo do derby?)
Ela- Não me estás a ligar a mínima! Hoje joga o Benfica?
(Herege, claro que sim!)
Ela- Logo vi!Não queres comprar nada para a tua afilhada, já que me disseste que os teus compadres vêm cá passar o fim de semana alargado?
(Compraria, se não faltassem somente três horas para o início do jogo e não tivéssemos gasto horas sem fim a ver promoções de roupa feminina nas lojas da especialidade...)
Ela- Tenho fome! Vamos lanchar?!
(Se o Luisão não jogar, espero que o Miguel Vítor avance...Vá lá, uma pausa de 15 minutos para comer uma fogaça bem docinha)
Ela-Onde assistirás ao jogo, já que não temos Sporttv?
(Já há dois anos que vivemos em comum e tem sido um cavalo de batalha. Mesmo para termos Benfica TV em casa, foi necessário elogiar continuamente a qualidade da Meo)
Ela- Chegámos a casa. Fazes o jantar? Tenho de preparar as explicações da próxima semana!
(Que remédio! Lá vou à mercearia comprar hortaliça: nabo, couve, batata, feijão e cenoura da Apúlia. Ingredientes para uma boa sopinha. Enquanto a preparo, penso comigo se não seria melhor optar por Jardel para estancar o jogo de cabeça de Van Wolfswinkel)
Ela- As espetadas estão deliciosas e a sopa também...Só comes sandes de fiambre?
(Explico-lhe que entrei imediatamente em estágio e que não devo fazer refeições pesadas. Contradigo-me ao mastigar entusiasticamente uma grande talhada de melão castelhano)
Ela- Já vais sair? De certeza que não queres ficar a assistir um filme comigo?
(Faltam 15 minutos para o jogo começar)
Ela- Tchau, mor!
(Na minha rua, só há um bar com LCD. O dono é um portista convicto com quem já troquei vários insultos. Entro e ao balcão, lá estão as fotografias emolduradas de Carlos Calheiros e de José Guímaro. Reparo que a televisão está sintonizada na Sporttv2: derby de Madrid, Real a vencer).
Portista- Escusa de me pedir para mudar de canal. Hoje não quero atrair clientela moura!
(Por isso é que em 20 mesas no bar, só uma está ocupada...)
Portista- Toma alguma coisa?
(Levanto-lhe o dedo do meio e corro até ao fim da rua onde está um pequenito café: 5 mesas, cheio como um ovo. Por superstição, não assisto a jogos do Benfica estando de pé...)
Menina- Ó professor, se tivesse vindo mais cedo...
(Corro à velocidade Usain Bolt para o BragaShopping. 20:15, Praça de Alimentação cheia. As poucas mesas vagas estão muito longe dos plasmas. João Capela apita. Não espero pela autorização do segurança: pego na mesa ao colo e coloco-me à frente de um grupo. Reparo que alguns têm cachecóis do Sporting de...Braga. Não acho estranho. Imediatamente atrás de mim, está um homem de meia-idade embriagado e com óculos de sol. Destila veneno atrás de veneno: os jogadores do Benfica estão dopados, deviam todos levar cartão vermelho, a bola de Gaitan ao poste foi lance de sorte, Artur Moraes devia morrer por abandonar o Braga, os benfiquistas são todos uns filhos de umas grandes prostitutas, espera bem que o F.C.P. ganhe o campeonato e que o Sporting vença o Benfica para ficar em segundo lugar...)
Bêbedo braguista- Vêm para aqui estes mouros emporcalhar o nosso ar! Hic! Hic!
(De repente, Aimar afaga a bola e matematicamente coloca-a na cabeça de Javi. As dezenas de benfiquistas amedrontados que até aí não se tinham manifestado por pavor de retaliações, gritam em uníssono a palavra mágica:
-GOOOOOOOOOOOOOOOOOOLOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO!!
Bêbedo braguista-Foi falta, foi falta!
(Levanto-me e encaro o indivíduo de frente com o mesmo olhar disciplinador que lanço aos meus alunos mal-comportados. O ébrio não é capaz de enfrentar o meu olhar e abaixa a cabeça. Não emite mais um som e abandona o local após o final da primeira parte. E aí senti-me o dono do Shopping...!)

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